quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Reflexões sobre a dor do amor...

Com uma preguiça incontrolável de mergulhar nos mapas, arquivos, desenhos e livros que fazem parte do meu “mundo do TFG”, resolvi dar uma olhadinha em outro livro que avistei sobre a mesinha de centro, Trem Bala, da Martha Medeiros... e ao abrir aleatoriamente, a página escolhida trazia o título “A dor que dói mais”.

Após ler a crônica, achei que caberia num post por aqui, tamanha a coincidência. Trata-se de um assunto/sentimento que está sendo, de certa forma, vivenciado (por tabela). A essência, se a Lê me permite dizer, é a mesma, pois as lágrimas que presenciei denunciam muita coisa...

A dor que dói mais

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dói. Bater a cabeça na quina da mesa, dói. Morder a língua, dói. Cólica, cárie e pedra no rim também doem. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Dói essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o escritório e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno, não saber mais se ela continua pintando o cabelo de vermelho. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu, não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango assado, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Coca-cola, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua surfando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Martha Medeiros, julho de 1998


Só espero que a dor um dia dê lugar a outro amor... e se depender de mim, amor e carinho tu sempre terás!

Escrito por Iza.

Um comentário:

Lê e Iza disse...

Lindo o texto! Lindo e sincero. Sincero e muito bem "traduzido".
A gente sempre acha que a dor da gente é única, mas cada dia tenho mais certeza que a histtória de fulano e cicrano se confundem com a minha. E certamente, pelas palavras lidas, Martha Medeiros já sentiu exatamente o que eu sinto hoje, o que você que está lendo esse texto já viveu ou viverá um dia (ou se tiver uma sorte rara, nunca viverá).
Assim como cresce essa certeza de sentimento mútuo, cresce tabém a certeza de que um dia esse sentimento ruim passará... e que coisas melhores virão (viva a terapia!).

PS: Esses posts estão cada dias mais pessoais.... que bom que não somos um blog famoso (ainda!).

Lê.