sábado, 2 de outubro de 2010

Pequenas coisas boas por Martha Medeiros

Daqui a pouco esse blog vai ter que mudar de nome e se chamar "The Best of Martha Medeiros". Pra não chegar a tanto, acho que pelo menos ela merece uma tag por aqui (vou estreá-la hoje!). Deu pra perceber o quanto somos fãs dessa escritora né? Acho que, principalmente, por ela conseguir traduzir com maestria os fatos cotidianos em texto breves, leves e gostosos de se ler. Consigo identificar meus pensamentos e opiniões através das palavras delas.

Com a saudade que tava de ler, e com a correria que está esse semestre com o nosso trabalho final de graduação, peguei emprestado da Iza o livro "Trem Bala" (da Martha, óbvio), por ser uma leitura rápida. Mesmo no meio do corre corre você consegue ler uma crônica ou outra rapidinho.

A que eu vou transcrever aqui se chama "Freud em Wall Street" e acho que combina muito com o tema dessa blog. Where we go:

"A felicidade está concentrada nos pronunciamentos da Armínio Fraga, nem da cobertura com quatro suítes anunciada no jornal, nem na concessionária da esquina. A felicidades tampouco está em algum serviço com prefixo 0900, não está em Bali e nem na farmácia que vende Prozac sem receita. Essa tal felicidade, mais procurada que bandido de história em quadrinhos e filho desaparecido, não mora num único endereço. Ela tem escova de dentes em cada lugar.

Se não me engano foi Freud quem disse que, assim como um prudente homem de negócios não coloca todo seu capital num único investimento, não se deve esperar toda satisfação de uma única fonte. Os riscos são altíssimos.

Digamos que seus bens restrinjam-se a um cônjuge e dois filhos. Um tesouro. Mas, independente de quanto eles valham, não irão sanar as dívidas que seu coração um dia irá cobrar. O amor deles por você, por maior que seja, não será suficiente para pagar o servilismo de uma vida, a dedicação integral, o preço das fantasias não vivenciadas. Seu conjugê, com o tempo, pode ficar maníaco, repetitivo, sem muito valor de revenda. Os filhos vão bandear-se para outros mercados e precisarão menos de sua auditoria. Família é que nem poupança, o investimento mais seguro que existe, mas fica a sensação de que se está perdendo alguma ótima oportunidade. Invista, pois, na família, mas mantenha outras reservas.

Uma profissão, pra começar. Deposite seus melhores neurônios nessa conta e corra atrás da rentabilidade.
Uma viagem. Duas. Várias. Retorno garantido desde que você não invente de voar pela Air Cazaquistão.
Um hobby. Pintura, aeromodelismo, internet, pólo aquático, uma horta, origami, criação de orquídeas, voluntarismo. Um prazer secreto, cuja senha só você conheça.
O excedente aplique em livros, discos, delicatessem, cinema, um box par de tênis, num colchão box springs, em silêncios, luares, conversas, sexo e num computador. Na falta de dinheiro e noção de informática, vale um grosso caderno de pauta. Escreva. Sonhe. Enlouqueça uma hora por semana.

Não espere toda a felicidade de uma única fonte. É Freud ensinando como economizar lamúrias."

Março de 1999.

Falou e disse, Martha. Mais uma vez.

Lê.

Um comentário:

Lê e Iza disse...

Post inesperado... Nosso blog fica tão abandonado de tempos em tempos que eu equeço de checá-lo.
A Martha Medeiros com certeza merece uma TAG só dela por aqui! Os textos dela são tão comuns (no bom sentido da palavra) às nossas experiências, que são transcritos aqui com satisfação e todos os devidos créditos, porque, com esse blog, temos o papel de enviar pequenas coisas boas àqueles que nos visitam. É uma forma de agradecimento. É um escape que temos na nossa correria do dia-a-dia.
Sem dúvidas, com esse texto, ela foi capaz de exlicar em algumas palavras o sentido da felicidade. Ela realmente está nas pequenas coisas... milhares delas!
Muito obrigada por compartilhar, mana!
Beijocas
Iza